EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20151117

"A Janela do Cardeal"




No século XVI um cardeal português poderia ter-se sentado em Roma na cadeira de São Pedro. Esse homem que contou com a firme oposição de D. João III, foi D. Miguel da Silva, Bispo de Viseu. Nascido em Évora mês de Agosto de 1480, estudou nas universidades de Paris, Siena e Bolonha tendo sido sempre um aluno distinto.
Em 1513 o rei D. Manuel I resolveu nomeá-lo embaixador junto de Leão X, cargo que desempenhou com muito mérito. Porém depois do falecimento do “Venturoso”, o seu filho D. João III que não reconhecia as suas inegáveis qualidades e não aceitava que o seu primo fosse cardeal, ultrapassando um príncipe da casa real, tratou de o desconsiderar.
A Leão X sucedeu Adriano VI, a Adriano VI sucedeu Clemente VII, o Cardeal Júlio Médici, coroado a 6 de Novembro de 1523, um grande amigo de D. Miguel da Silva.
D. Miguel ciente da má vontade real voltou a recusar a púrpura cardinalícia, tal como tinha acontecido com Leão X e foi obrigado a regressar ao reino, deixando desgostoso Clemente VII que, por várias vezes, instou o rei para que reconsiderasse. Regressado a Portugal recebeu várias honrarias e foi nomeado bispo de Viseu, no final de 1525 ou início de 1526. Porém continuava descontente porque Lisboa e a corte portuguesa eram muito tacanhas para um homem inteligente, um Humanista muito culto e habituado ao convívio com grandes figuras das letras e das artes europeias. Estribado em invejas e intrigas o rei preparava-se para o mandar prender. Para evitar ser encerrado numa torre e certamente ser processado pela Inquisição foi obrigado a fugir para Roma, em 22 de Julho de 1540, onde foi muito bem acolhido. Em retaliação Portugal ameaçou romper relações diplomáticas com a Santa Sé e acusou D. Miguel da Silva de traição e roubo de segredos de Estado. Por decisão régia de 23 de Janeiro de 1542, perdeu a nacionalidade portuguesa e teve os bens confiscados.
Paulo III ignorando as pressões da coroa portuguesa apoiou D. Miguel e de tal modo que em 31 de Agosto de 1542 o encarregou de uma melindrosa e importantíssima missão diplomática - reconciliar Carlos V que estava em guerra com Francisco I, Rei de França. Esta disputa era um grande obstáculo à realização do Concílio de Trento. Paulo III faleceu em 23 de Março de 1555 e D. Miguel da Silva participou na eleição de dois Papas - Marcelo II (9 Abril) e Paulo IV (23 Maio). Entre os dia 15 de Maio e 23 de Maio de 1555, o "Cardeal Viseu", como decano do Sacro Colégio, foi o chefe da Igreja Católica, sede vacante.
Impedido de regressar a Portugal morreu doente e desgostoso, no dia 5 de Junho de 1556, com 76 anos de idade, no palácio de São Calixto e foi sepultado na Basílica de Santa Maria de Trastevere [ligação].

Em Viseu D. Miguel da Silva teve a iniciativa de mandar reconstruir e ampliar o Paço Episcopal do Fontelo, arranjar a Quinta e a Mata, edificar o Claustro Renascentista de Viseu e o Coro Alto da Sé mas sobretudo foi protector de Vasco Fernandes – O Grão Vasco, a quem encomendou vários quadros. No “Museu Grão Vasco” é possível ver dois retratos do Cardeal de Viseu: um deles será o rosto de São Pedro, pintado por Vasco Fernandes e o outro de Lázaro que figura no quadro “Cristo em Casa de Marta e Maria”, atribuído ao seu colaborador Gaspar Vaz.

Foram estes os factos que Luís Miguel Novais usou para escrever o seu primeiro romance histórico – “A Janela do Cardeal” que a Editora Planeta, Lisboa, publicou em Junho de 2010 [ligação].