Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Luís de Camões
EDITORIAL
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio
Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
20240609
Descalça Vai Para a Fonte
20240501
VIVA O 1º DE MAIO !!
Nesta manhã de Primeiro de Maio, Não há por que invejar o sol.
Éramos algo sem nenhuma importância coletiva,
Indivíduos, nada mais.
Nos transformamos num gigante coração
A marchar pelas avenidas.
Nossas reivindicações eram apenas pedidos,
Menos do que isso, gemidos,
Aguardando audiências e despachos.
Agora a voz de cada um faz parte
De um canto cantado por um coral de milhares.
Não somos indivíduos nem multidão,
Somos um povo unido.
Adalberto Monteiro
"As delícias do amargo & uma homenagem: poemas"
Editora Anita Garibaldi – 1ª edição 2006
20240424
Viva o 25 de Abril - 25 de Abril Sempre
"As Portas que Abril Abriu"
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza
(...)
José Carlos Ary dos Santos
20240329
PÁSCOA
Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI
20240306
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
Nós temos à volta de 500 sócios. Sócios que vão, portanto, com regularidade às nossas sessões.
Pagam uma quota irrisória, para a oferta cultural que fazemos...
que é evidente que é grande...
Uma quota de 200$00 permite-lhes ver quatro filmes/mês, portanto, praticamente, nós damos Cinema em Saldo.
Mas acho que é essa a função do Cine Clube.
(...)
In Programa destinada à divulgação da atividade dos Cine Clubes nos finais da década de 1980
20240304
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
(...)
Entrevistador - E os vossos sócios... gostam de quê?
Cinema Americano, Cinema Europeu, Cinema Português...
Como é que vocês chegam a esse balanço da exibição que têm de fazer?
Alex - Nós temos que usar a estratégia de dar uma no cravo e outra na ferradura, como é evidente... É evidente que eles não estão imunes a uma certa hegemonia que o Cinema Americano, faz e que de certo modo, canibalizou todo o Cinema Europeu. Não só o Português, todo o Cinema Europeu está em razoável decadência.
(...)
20240302
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
(...)
Alex - De qualquer forma a nossa programação e, é pena, neste momento não tenho aqui números muito exactos mas, á volta de 40/50 % da nossa programação é, efectivamente, Cinema Europeu. Sinal de que vamos, como não somos e não temos responsabilidade, nem queremos ser, portanto... um agente de exibição comercial... podemos dar-nos ao luxo de certo modo de tentar flectir os gostos e a oferta cultural... não dentro da preocupação... das preocupações comerciais dominantes. Apesar de que não temos uma programação crispada, daquelas militante e dura de filmes chatos ou de filmes que, depois, eventualmente, as pessoas não fossem ver, não é ? Temos essa prudência mínima.
In Programa destinada à divulgação da atividade dos Cine Clubes nos finais da década de 1980