EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
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José Régio


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"Anfitrião" de Plauto


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Esta peça teatral conta uma “estória”, bem conhecida, a de um “corno manso”, só que com uma variante, a coisa acontece entre deuses e homens. É uma comédia de Plauto (254 ? – 184 a.C. ?) e é um dos escritos mais antigos da Literatura Latina. Das cerca de 130 obras atribuídas a este autor, apenas chegaram até nós 21, entre as quais se encontra, felizmente, este “Anfitrião”.
Embora Plauto se tivesse inspirado nos modelos gregos, introduziu diversos elementos ao gosto romano: canções e danças. As confusões e enganos característicos das comédias gregas foram e muito bem, transpostas para a sociedade romana. Plauto tinha um grande sentido de humor, conhecia bem o seu povo e utilizava o latim popular. Foi muito apreciado na sua época e grandes dramaturgos como: António José da Silva (O Judeu), Camões, Heinrich von Kleist, Molière e Shakespeare devem-lhe muito. Criou muitas personagens tipo que continuaram e continuam a ser usadas, ficou na História como o maior comediógrafo latino. Fez rir quando Roma atravessava momentos difíceis e também por isso o povo acorria em grande número para ver as representações.
Quanto ao conteúdo desta comédia, nada melhor do que dar a palavra ao seu autor:
“Argumento I“ - “Júpiter, sob a aparência de Anfitrião, que andava em guerra contra os Teléboas, tirou-lhe a esposa, Alcmena, e dela desfrutou. Mercúrio assume o aspecto do escravo Sósia, também ausente; Alcmena cai na esparrela.”
“Ao regressarem a casa, o verdadeiro Anfitrião e o verdadeiro Sósia são, um e outro, objecto de troça extraordinária. Daqui nascem as discussões e a confusão entre marido e mulher, até que Júpiter, fazendo ouvir do alto do céu a sua voz no meio de um trovão, confessa o adultério.”
Vejam esta situação, contada no Prólogo por Mercúrio (filho de Júpiter e colaborador no embuste), o protector dos comerciantes e dos ladrões, revela aos espectadores que o seu pai engravidou a esposa do General, que já estava grávida do marido : (...) “tantas lhe deu que...” e por supremo e invejado poder: (...) “E meu pai está, neste momento, aqui dentro, na cama com ela e, por esse motivo, foi esta noite prolongada: é o que acontece, sempre que ele está no gozo com qualquer fulana do seu agrado”.
Depois de tudo esclarecido, Anfitrião ficou contente pela honra dada à sua casa e por ser marido de uma mulher, Alcmena, cobiçada pelo deus. A sua esposa gerou e pariu o seu filho e um semideus, Hércules. Pobre Juno, a esposa traída e ciumenta exacerbada, foi mais uma vez vítima das escapadelas do marido a quem fazia a vida negra. A partir desta comédia, anfitrião passou a designar “aquele que recebe na sua casa” e sósia “um duplo de outra pessoa”.

Tito Maccio Plauto nasceu em Sarsina, na antiga Umbria, actual Norte da Itália, de família pobre e morreu em Roma, para onde foi viver ainda jovem. Fontes, pouco seguras, dizem que trabalhou nos bastidores do teatro e foi comerciante. Maus negócios levaram-no à ruína, fez-se moleiro e começou a escrever as suas comédias. Regressou ao Teatro, agora como autor, teve muito êxito e passou a ser um cidadão estimado e muito rico. As suas principais obras são: “Anfitrião”, “Aulularia”, “O Soldado Fanfarrão”, “Os Menecmos”, “Persa”, “Pseudolus” e “Vidularia”.

“Anfitrião” – Peça em 5 Actos, 3ª Edição em português: Janeiro de 1988, Autor – Plauto (Introdução, versão do latim e notas de Carlos Alberto Louro Fonseca), Capa de Louro Fonseca, Textos Clássicos – 1, Instituto Nacional de Investigação Científica, Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos da Universidade de Coimbra.