EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20150502

“Praça 2 de Maio" inaugurada em 1879

Gravura de 1884 (?), as lojas demolidas na Rua Formosa foram inauguradas há 100 anos
Postal Ilustrado  não datado, nem circulado (pintura manual dos primeiros anos do séc. XX)

"No dia 2 de Maio de 1834, era grande a agitação na cidade de Vizeu, porque dizia-se que estava a chegar o Duque da Terceira (*), e com elle a liberdade constitucional. Com effeito, pelas 5 horas da tarde do mesmo dia, via-se um enorme concurso de povo estacionado na Ribeira. Notava-se em todos os rostos a maior anciedade pela chegada dos constitucionaes, pois que alli se achavam paes, filhos, e esposas, que desejavam vêr e abraçar os entes queridos que a guerra lhes trazia longe há dois annos. Por isso todos os olhares convergiam sobre os montes Castro, fronteiros a Abravezes, esperando a cada momento verem desembocar por as suas gargantas os victorioso soldados.
De subito um immenso brado de alegria rompeu de todas as boccas. Ao longe, no cume dos montes, via-se uma massa escura que tendia a crescer mais e mais.
Eram elles, eram os constitucionaes. Tudo correu ao seu encontro. Nos templos da cidade, repicavam festivamente os sinos, e sentia-se o estourar de numerosos foguetes.
A festa era enorme, echoando por assim dizer em todos os peitos. E com razão, porque Vizeu, que foi uma das cidades que mais tributo prestou á causa constitucional, gemia esmagada pelo absolutismo, e por isso anhelava a hora da liberdade, como arabe anhela a breve passagem do deserto.
A divisão já se via perto.
A´frente cavalgava o Duque da Terceira radiante de gloria e alegria. A banda da divisão tocava o hymno Constitucional.
E aquelles soldados cobertos de pó, cheios de cançaço, tinham todavia a força necessária para gritarem com o maior enthusiasmo: - Viva a Carta Constitucional! Viva D. Pedro IV!-
E´que adiante, muito perto já, descortinava-se Vizeu, a querida patria, o lar, a familia que não tinham visto ha dois anos. Por isso é que os fortes corações d’aquelles intrepidos, guerreiros se commoviam, sentindo correr as lagrimas de jubilo pelas faces tisnadas e denegridas pelo fumo e fragor das batalhas.
O quadro era comovente. A multidão que chegava corria a estreitar-se nos braços que lhe abria a multidão que esperava.
Os detalhes d´esta grandiosa scena eram puramente dramaticos.
Aqui via-se um velho alquebrado pelos annos, dizendo com a expressão de quem acha uma coisa que julgava perdida: - E´s tu, meu filho?...- e depois qual outro Semeão:- Agora poderei morrer em paz, Senhor !-
E o hymno da Carta echoava dulcissimamente em todos os corações como que dizendo-lhes:- Partiram-se as algemas Sois livres!- De facto, d’esse dia a esta parte ficou estabelecido em Vizeu, o systema constitucional.
Por isso é que o dia 2 de Maio é de festa para Vizeu porque celebra este fausto acontecimento."

JOSÉ DE ALMEIDA E SILVA
In, “Album de Vizeu” - Typographia Universal, Rua do Almada, 347, Porto - 1884
* António José de Sousa Manuel de Meneses Severim de Noronha -  1º Duque da Terceira