EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20180622

"Aquilino Ribeiro" - Gilberto de Carvalho


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-“Perdôo tudo (!) Até mesmo que me roubem (!!) só não perdôo a um homem preso que não se esforce por fugir!”.
Aquilino Ribeiro

“(…) António Maria Monteiro achava Aquilino grande, também fisicamente grande, para poder passar despercebido, mesmo vestido de mulher. E o outro comparsa o mais pequenito, era de opinião que o nosso Aquilino Ribeiro deveria sair misturado num grande grupo de amigos visitantes.
Por fim, o Sapateiro falou da tal porta da loja sob o sobrado do quarto dos presos. E foi a descoberta do caminho terrestre das índias libertadoras. (…)
Dos que entraram na aventura maravilhosa só o tal “janistroques” do jornalismo ainda está vivo, Arnaldo Malho – cujas mãos de forjador faziam gemer e seduziam o ferro que depois de espirrar, de cantar, de chorar e de rir passava do rubro ao jeito e à forma de folhas e de pétalas e floria como que encantado de ser vencido pelo artista! – Arnaldo Malho fez a chave para abrir a portasita, que dos baixos da prisão dava para o lameiro, a noroeste.(…)
O “Ai-ó-linda” não haveria de servir apenas no Éden lisboeta, de negregada memória, para abafar queixumes. Foi usado, naquela tarde bonita de fim de verão, para não ser ouvido o réque-réque-réque do serrote a cortar o sobrado na largura de um homem. Por sinal, até passaram dois pelo buraco, safando-se para a liberdade! (…)
Cá fora, sobre o muro, tendo debaixo de olhos quanto fosse de perscrutar até à estrada nacional Viseu - Sátão, estava quem lhe garantia a segurança. E de aí em diante – ala! Que se faz tarde!” (…)

Gilberto de Carvalho In “Aquilino Ribeiro (Pequenas coisas num grande homem)”- Texto de Conferência proferida na Casa da Beira Alta, no Porto, em 1968

Gilberto de Carvalho nasceu e faleceu em Viseu (n. 30/10/1904 e f. 08/09/1973). Foi Aprendiz de Serralheiro, Ferroviário, Tipógrafo, Agente de Seguros e Jornalista - actividade que prossegui até à hora da morte. A crónica do incêndio que destruiu a Casa de Saúde de São Mateus, junto ao Campo de Viriato, tem a sua assinatura, embora estivesse prostrado no leito, gravemente doente e não a tivesse escrito.
Amigo muito próximo de Aquilino esteve envolvido na sua fuga do Presídio Militar do Fontelo, actual Solar Vinho do Dão, onde o escritor se encontrava detido por estar metido num golpe que visava derrubar a ditadura militar, envolvendo civis e militares de Caçadores 10, de Pinhel, que pretendiam dirigir-se a Lisboa de comboio, no dia 21 de Julho de 1928.