EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


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20160831

A "Cava de Viriato" e o Viriato


GIF via GIPHY -  "Viriato", Mariano Benlliure (1940)

Continuação:
Segundo a tradição a “Cava de Viriato” teria sido local de refúgio dos lusitanos ou uma fortaleza dos romanos. Na Baixa Idade Média (séc. XI a XV) a construção era denominada por “Cerca da cava” ou “Cerca da vala”. A ligação a Viriato e aos lusitanos é mais recente, apenas do século XVII quando a personagem de Viriato foi aproveitada para enaltecer os lusitanos, erroneamente considerados os “primeiros portugueses”, como forma de espelhar o desejo de liberdade e não subjugação a reis espanhóis.
A autora aborda, muito abreviadamente, as várias opiniões sobre a real função da construção e da cronologia do monumento. Houve mesmo quem opinasse que a cava teria como finalidade servir de abrigo aos rebanhos, por exemplo Mestre Aquilino Ribeiro (2). Na realidade ninguém conhece a data, nem a quem se deve a iniciativa da edificação que se perderam nas penumbras do tempo. Durante muitos séculos foi considerada, sem contestação, uma fortificação romana, hipótese que modernamente, viria a ser contrariada pelos defensores da origem islâmica, provavelmente do período da invasão da península, a fortaleza teria sido uma cidade acampamento, talvez da época de Almançor, séc. X/XI. O livro refere a recente e infrutífera sondagem, que consistiu na recolha de amostras de terra do fosso, com a finalidade de procurar datar a sua construção (3). A expectativa seria talvez confirmar a nova tese da atribuição da construção à Alta Idade Média (séc. V a X), com a finalidade de vir a ser uma “Cidade áulica” (do Poder), inacabada e abandonada por ter sido mal implantada (em terrenos húmidos), sem adiantar qual a opinião perfilhada pela autora. Viriato teria sido um dos poucos sobreviventes do massacre e subsequente escravidão de milhares de lusitanos, que confiaram em Sérvio Sulpício Galba (150 a.C.) que os mandou atacar, estando reunidos e desarmados, depois de lhes ter prometido a paz e a cedência boas terras. 
Os êxitos de Viriato, a sua valentia e as suas qualidades de homem, foram mitificados por escritos clássicos de fontes que poderão ter exagerado para justificar os insucessos das legiões romanas, ficariam conhecidos como “Guerras Viriatinas” ou “Guerras Lusitanas”, episódios de pequena importância, de um conflito maior as “Guerras Púnicas” que opuseram Roma a Cartago, pelo domínio do comércio marítimo no Mediterrâneo e pela expansão do território. Os cartagineses estavam mais interessados no comércio e respeitavam os autóctones mas os romanos conquistavam, subjugavam, ocupavam e colonizavam todos os territórios que pudessem. Os lusitanos em menor número, pior armados  mas melhores conhecedores do terreno, utilizavam tácticas matreiras e preferiam os terrenos acanhados, utilizando tácticas muito mais tarde denominadas como “guerillha”, porque as legiões romanas eram essencialmente uma ordenada e pesada máquina de guerra, mais talhada para confrontos directos em campo aberto, que no seu auge foi demolidora.
Face ao enorme poderio de Roma e munido de todo o seu engenho e valentia Viriato conseguiu  a proeza de enfrentar e  mesmo vencer as poderosas legiões romanas, entre  os anos de  147 a.C. e 139 a.C., mas realisticamente sabia-se condenado ao insucesso. Cansado e com os  homens exaustos, decidiu enviar três homens de confiança, Audax, Ditalco e Minuro, para negociar com Quinto Servilio Cipião, uma paz honrosa. Os mensageiros acabariam por se deixar subornar e assassinaram Viriato, enquanto dormia, tornando mais fácil a submissão. Para suceder a Viriato foi eleito Táutalo, o braço direito de Viriato, que foi facilmente dominado por Cipião.  Mas a pacificação total dos lusitanos, só viria a ser alcançada por Júlio César em 61 a.C. que terá tido o seguinte desabafo: “Há, nos confins da Ibéria, um povo que não se governa nem se deixa governar.”

2- “Avós dos Nossos Avós”, Aquilino Ribeiro, Livraria Bertrand, Lisboa, 1958.
3 – À data da escrita da obra ainda não seriam conhecidos os resultados da sondagem.

Fontes principais:
"Viagem ao Passado Romano na Lusitânia" de Lídia Fernandes, "A Herança Romana e Portugal" de Carlos Fabião, ”O Domínio Romano em Portugal” de Jorge de Alarcão, “A Feira de S. Mateus em 1940…” de Luís da Silva Fernandes (artigo "Feiraemrevista/2015"), "História dos Lusitanos" de Pedro Silva, "Lusitanos no Tempo de Viriato" de João Luís Inês Vaz ", "A Terra de Endovélico - o Deus dos Lusitanos", de José Galambas, "Viriato" de Leonel Abrantes e "Viriato" de Maurício Pastor Muñoz.
Sugestões Internet:
"Causa Merita", "Viriato" de Maurício Pastor Muñoz (A Esfera dos Livros /PDF), "História de Portugal", Blogue de João M. Tomás dos Anjos e "100 Data que Fizeram a História de Portugal", de Pedro Rabaçal (Editorial Presença/PDF)