"Vissaium, o Espírito do Lugar", Editor Arquehoje, Lda., Viseu 2009
No passado Sábado fui à FNAC do Palácio do Gelo assistir à iniciativa "Rock Tour" para ver uma ara, um altar votivo Lusitano-Romano, descoberta perto do cruzamento da Travessa da Misericórdia com a Rua Silva Gaio, durante a execução das obras destinadas à instalação dum funicular, elevador sobre carris que em breve irá permitir ligar o Campo de Viriato e as proximidades da Sé Catedral (topo da Calçada de Viriato junto da Casa do Adro). Há poucos dias em visita à exposição "Religiões da Lusitânia" no Museu Nacional de Arqueologia, tive oportunidade de ver várias aras mas esta reveste-se de especial interesse porque permitirá conhecer o nome dos habitantes do lugar, cinco séculos mais tarde conhecido por Veseo. A tradução proposta por Luís Fernandes para a inscrição no granito de grão fino, uma obra de cantaria bem executada, com as dimensões 101 x 43,5 x 34,5 cm, composta por três elementos: capitel, fuste e base, é a seguinte:
Ás deusas e deuses vissaieigenses. Albino, filho de Quéreas, cumpriu o voto de bom grado e merecidamente.
A julgar pela forma das letras e de acordo com o mesmo especialista o monumento votivo datará possivelmente do séc. I. Assim sendo o nome da urbe seria Vissaium que muito facilmente se transformou em Veseo e mais tarde em Vizeu e Viseu. Deste modo foi possível recuar cinco séculos pois a forma Veseo era conhecida por constar em documentos autênticos do séc. VI. O arqueólogo Pedro Sobral de Carvalho tem razões para estar contente pois há mais de vinte anos acalentava e esperança de encontrar um achado deste tipo. Depois de pessoalmente ter felicitado o Pedro pela descoberta que teve o gesto bonito de considerar ter sido um trabalho de toda a sua equipa, desejo deixar uma sugestão que espero seja bem acolhida pelos responsáveis. Nos últimos anos foram realizadas muitas escavações arqueológicas que certamente deixaram a descoberto novas peças de um imenso puzzle que é o conhecimento do passado da nossa cidade. Neste caso os trabalhos arqueológicos permitiram recolher dados sobre a ocupação do morro da Sé iniciada no séc. IV a.C., em plena Idade do Ferro, permitindo recuar bastante a história local e validando a hipótese, há muito discutida, da existência de um castro naquele lugar.
O acompanhamento dos trabalhos de construção e reabilitação na zona histórica é legalmente obrigatório mas lamentavelmente a divulgação dos resultados, bem sei que os achados precisam de ser inventariados, datados e estudados, fica registada apenas nas actas dos congressos e nas folhas de publicações especializadas, não chegando a um público mais alargado. As peças, verdadeiras testemunhas mudas, continuam esquecidas nas prateleiras dos armazéns, confiadas à guarda dos arqueólogos porque continua a faltar na cidade um museu onde esses objectos possam ser apreciados em contexto.
Republicação de artigo (vandalizado) de 30 de Junho de 2009