EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20160106

Um Marco da "Cava de Viriato"




“A camara municipal, em Junho de 1818, a instancias do general da provincia, António Marcellino Victoria, mandou levantar marcos pelo circuito interno e externo dos muros da Cava; porem esta providencia baldou-se, porque já dantes os lados orientais, equados ao solo, se achavão alienados em aforamento; e os restantes continuarão, sem embargo, a ser acommetidos pelas cerceaduras e escavações dos possuidores das glebas contiguas. Finalmente este monumento veneravel parece que se vai despedindo da geração actual, e a seguinte por certo que não tardará a derrear-lhe o dorso por essas planicies. Saudemol-o pois!... já que os homens da governança não querem intender nestas archeologias, e os cobiçosos visinhos vão cavando para si. (...)”

José de Oliveira Berardo [saber +], citado em "Portugal Antigo e Moderno, Diccionario", Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, continuado por Pedro Augusto Ferreira,  Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 5 - Largo de Camões – 6, 1890.

Tantas e tantas vezes passei sem reparar neste marco de granito diferente de outros que ainda existem na "Cava de Viriato" [saber +]. Um olhar mais atento permitiu ver gravadas as letras "CM" (Câmara Municipal). O marco tem 33 cms de altura, acima do solo e base quadrada de 20 por 20 cms e deverá ser o único sobrevivente dos marcos com que a câmara municipal delimitou a cava, em 1818 para tentar terminar com os abusos dos proprietários vizinhos mas infelizmente o mal já estava feito. Uma vez que o perímetro do monumento é de 2.000 metros, cada face do octógno mede 250 metros e os marcos que foram colocados no exterior e no interior da antiga fortificação, à excepção deste levaram sumiço. Mas felizmente não aconteceu o que o cónego Berardo temia: "Mortalia facta peribunt" ("As obras dos mortais se perderão"). Mas outros desmandos se seguiriam, o mais recente em 2008 quando a câmara municipal, via empresa "ViseuPolis", com fundos comunitários e do governo central pagou a construção de escadarias e a colocação da dispendiosa, polémica e perigosa "passadeira de granito" [saber +].