Viriato, meu vizinho,
Tem vivido a um cantinho,
Nas trevas, todo humildade!
Há pouco tudo mudou,
Viva luz o inundou
Com jorros de claridade!
Resolvi entrevistá-lo,
(...)
Assim me disse o guerreiro:
(...)
Nos belos tempos, passados,
Gozei muito bons bocados
Nesta escuridão de breu...
Hoje - que grande arrelia! -
Eternizaram-me o dia,
Para mim tudo morreu!...
(...)
Vi um par de namorados
Tão juntinhos e agarrados
Que fiquei com a impressão
- Faltou-me a luz duma tocha -
Que a rapariga... era a rocha
E o rapaz... o mexilhão...
(...)
Eu vi coisas, eu vi loisas,
Eu vi loisas, eu vi coisas.
Dum realismo brutal!...
Se não perdi a cabeça
Esse bem... que se agradeça
Ao ser velho... e de metal!...
Adelino Azevedo Pinto (Rijo), in "Retalhos dos Meus Trabalhos"