EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20140630

Visita-me enquanto não envelheço

Malvas em flor

visita-me enquanto não envelheço 
toma estas palavras cheias de medo e surpreende-me 
com teu rosto de Modigliani suicidado 

tenho uma varanda ampla cheia de malvas 
e o marulhar das noites povoadas de peixes voadores 

ver-me antes que a bruma contamine os alicerces 
as pedras nacaradas deste vulcão a lava do desejo 
subindo à boca sulfurosa dos espelhos 

antes que desperte em mim o grito 
dalguma terna Jeanne Hébuterne a paixão 
derrama-se quando tua ausência se prende às veias 
prontas a esvaziarem-se do rubro ouro 

perco-te no sono das marítimas paisagens 
estas feridas de barro e quartzo 
os olhos escancarados para a infindável água 

com teu sabor de açúcar queimado em redor da noite 
sonhar perto do coração que não sabe como tocar-te 

Al Berto, in "Salsugem"