Um fantasma, apesar de invisível,
acusa o toque do teu olhar,
o que não acontece com o teu pêlo
negro e felpudo, que absorve tudo.
Como um louco que, num acesso
de mania, destrói tudo em redor,
e de súbito cai numa espécie de torpor,
no chão acolchoado da cela,
Ele parece dissimular dentro de si,
todos os olhares que nele pousaram,
para agastado e ameaçador
se enroscar e com eles adormecer.
Mas, de súbito, desperta de novo,
volta-se para ti e olha-te nos olhos:
descobres-te, então, a ti próprio, suspenso
no âmbar amarelo dos seu olhos ovais
como se fosses um insecto e nada mais.
Rainer Maria Rilke
in "Animal Animal – Um Bestiário Poético", antologia de poesia de
Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, 2005
acusa o toque do teu olhar,
o que não acontece com o teu pêlo
negro e felpudo, que absorve tudo.
Como um louco que, num acesso
de mania, destrói tudo em redor,
e de súbito cai numa espécie de torpor,
no chão acolchoado da cela,
Ele parece dissimular dentro de si,
todos os olhares que nele pousaram,
para agastado e ameaçador
se enroscar e com eles adormecer.
Mas, de súbito, desperta de novo,
volta-se para ti e olha-te nos olhos:
descobres-te, então, a ti próprio, suspenso
no âmbar amarelo dos seu olhos ovais
como se fosses um insecto e nada mais.
Rainer Maria Rilke
in "Animal Animal – Um Bestiário Poético", antologia de poesia de
Jorge Sousa Braga, Assírio & Alvim, 2005