Um dia ele seguiu-me
Da água onde eu morava
Cumprimentou-me, fugiu-me
E a outro dia lá estava
Atirei-lhe de trapeira
Da minha água furtada
Uma rubra sardinheira
Que se tornou mais corada
Depois, nunca mais o vi
Nem do seu olhar a chama
Passou tempo, descobri
Que ele morava na Alfama
Uma noite, sem pensar
Pus o meu xaile, meu lenço
E fui atrás desse olhar
Que deixara o meu suspenso
Hoje moro onde ele mora
Hoje durmo onde ele dorme
E só olho por dentro e por fora
Da minha alegria enorme
Linhares Barbosa