EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20100306

Viriato "A La Minuta" ...

Desde as primeiras décadas do século XX que nos jardins, praias, miradouros e outros locais mais visitados começaram a aparecer, principalmente nos meses de Verão, os fotógrafos "A la minuta". Durante o resto do ano alguns andavam de aldeia em aldeia a oferecer os seus serviços ou a fotografar em festas, romarias ou cerimónias religiosas.
Muitos usavam um colorido "cavalinho" de madeira ou cartão que os rapazitos montavam alegremente enquanto sorriam para a lente na frente do "caixote de madeira". Também executavam fotos tipo passe, mais baratas e com maior rapidez, embora de menor qualidade, que os fotógrafos de porta aberta. Era necessário ficar muito quietinho senão a foto ficava tremida...
Além da máquina o fotógrafo ambulante transportava um balde, frascos de químicos, vasilhas com água para e lavar as fotos que depois pendurava num cordel a secar, usando molas de madeira da roupa.
Os fotógrafos mais habilidosos produziam, usando cartões recortados, imagens dentro de "molduras", muitas vezes corações enlaçados que eram muito apreciados pelos namorados. O "caixote" montado sobre um tripé estava equipado com uma manga de pano negro e era, simultaneamente, máquina fotográfica e câmara escura. Para mim era um mistério quando o via colocar, de cabeça para baixo, aquilo que mais tarde vim a saber ser o negativo numa tábua de frente para a objectiva. Lateralmente e emolduradas podiam ver-se várias fotos que serviam como amostras.
Tive a sorte de conhecer na "Cava de Viriato", nos finais década de 50, quando ainda era muito pequeno, um fotógrafo "A la minuta". Muitas vezes fui ver o Sr. Joaquim Ramirez, um portuense de origem galega, um homem alto de bonita figura e de boina espanhola no alto da cabeça, fazer magia com o seu “caixote”, um balde com água, uma esponja e por fim uma toalha para limpar as mãos.
Magalas, sopeiras, estudantes e alguns visitantes pareciam ser os seus melhores clientes. Depois apareceram os primeiros "Kodak´s", máquinas fotográficas pessoais baratas e depois as "Polaroid's", e os fotógrafos ambulantes foram condenados. Mas ainda há alguns por aí que continuam a "encantar" usando uma velha mas fantástica tecnologia que permite guardar um pedaço do tempo num papel.
O Sr. Joaquim habitualmente exercia a sua arte, executava os seus números de magia do lado direito do Viriato, à esquerda das imagens, costumava usar o monumento como fundo e o friso da parede de granito, onde está inscrita a dedicatória do monumento, erigido em 1940 e da autoria de Mariano Benlliure, para secar as suas fotos ao sol.

Veja uma foto antiga [ligação], outra mas desta vez recente [ligação]