É com D. Duarte e com o infante D. Pedro que a nossa língua assume elevada capacidade de expressão conceptual no plano da filosofia, no despontar do século XV. No caso de D. Duarte, interessa-nos sublinhar essencialmente o seu Leal Conselheiro, já por alguns considerado o primeiro ensaio filosófico escrito em língua portuguesa, devendo consultar-se igualmente o seu Livro de Horas, de interesse mais relevante no plano da espiritualidade.Elaborado no início do século XV, altura em que Portugal começava já a viver a aventura da expansão marítima, constitui, como o próprio autor refere, um ABC de lealdade, com intenção didáctica, no plano da doutrinação ética e moral. Todavia, não há, neste tratado, uma sequência ordenada de conceitos e princípios, definindo um sistema concatenado. O que sobressai, e o que porventura o valoriza, é a sua forma coloquial, em consonância com o seu autodidactismo, fruto de uma elaborada capacidade de análise das situações concretas da existência humana, apresentadas «misturadamente e não assi por ordem». [Instituto Camões - Ligação]