Por que razão a democracia tem medo de Salazar?
A RTP vai realizar uma espécie de concurso reality show intitulado Os Grandes Portugueses, que inclui como prato principal a escolha pelo voto dos “portugueses” da personalidade preferida de toda a nossa história. (…)
Por último, há uma razão muito simples que ninguém quer admitir, e que tem a ver com a permanência nos valores mentais, nos hábitos da nossa democracia, dos quadros do Portugal de Salazar. Valores com o “respeitinho”, a hipocrisia pública, a retórica antipolítica, a tentação de considerar que o suprapartidário é bom, a obsessão pelo “consenso”, o medo da controvérsia, a cunha e a clientela, mesmo a corrupção pequena, a falta de espírito crítico desde as artes e letras até à imprensa e igreja, tudo vem do quadro do salazarismo e reprodu-lo. (…)
Para além do aspecto catártico, talvez isso suscitasse uma discussão a sério do que significou Salazar na nossa história do século XX onde ele é a personagem principal, goste-se ou não. Uma das cegueiras desta censura é não ver que o salazarismo explícito é bem menos importante que o salazarismo implícito, mais importante e perigoso para a democracia.
José Pacheco Pereira, Historiador, in Público de 12 de Outubro de 2006
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A propósito da não inclusão do nome do Prof. Salazar na lista para a escolha de “Os Grandes Portugueses”, entretanto corrigida
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