Muitos políticos são amigos do alheio
Mas há muita gente séria lá pelo meio…
Parece que quanto mais alto é o patamar
Maior é a tendência para mentir e ocultar…
Sinto uma tristeza sem fim
Por termos tantos políticos assim…
Vai ser difícil acabar com esta realidade
Que dificulta tanto a governabilidade…
As gémeas, as casas e a empresa
Não são invenções, tenho a certeza!
Quem depois da tormenta ter provocado
Diz que o adversário é que é o culpado
Deve ser julgado e afastado…
Gente desta
Não presta!
CELSO NETO
EDITORIAL
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio
Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
20250324
Os Amigos do Alheio
20250216
"Vídeo Kills the Radio Star"
Cada vez menos espectadores nas salas de Cinema e mais gente transportando caixas de plástico com cassetes de vídeo. Geralmente vão aos pares e caminho de casa. Certamente que isto é uma constatação partilhada por muitos amigos. Os tempos que correm são assim:
Individualismo e facilidade.
Mais cassetes a “passear” e menos pessoas nas salas, lugar e eleição para os encontros com o mundo maravilhoso, fascinante e falso do Cinema.
É mais cómodo, a escolha mais ampla, mais económico e os que escolhem o vídeo ficam contentes. E fazem muito bem. Desfrutam ao seu modo.
O vídeo não me satisfaz. Ainda lhe falta muito para ser comparável ao Cinema e nunca o será. São duas coisas distintas e talvez venham a ser complementares.
O Cinema é na sala escura, no “Silver Screen”.
Cinema é viver em grande.
O vídeo não passa de uma pálida imitação do Cinema. As tv’s do futuro (próximo) serão grandes, para pendurar na parede, com formatos respeitadores dos écrans de Cinema e o mais importante de qualidade de imagem capaz de rivalizar com a película (alta definição).
Vamos aguardar a sua chegada. Claro que estes equipamentos vão ser caros, no início, depois a massificação fará baixar os custos.
O meu fascínio pelo Cinema vem de longe. Muito pequeno e já fugia de casa para o Cinema. Com três anos é evidente que o podia frequentar e por isso me limitava a olhar os cartazes, as fotografias e as grandes letras dos anúncios.
Ficava-me pelo “Hall” e por vezes atrevia-me a chegar à porta de onde fluíam os sons maravilhosos daquele mundo. Lá estavam o polícia, o porteiro e aquela porta fechada para mim.
Os amigos e vizinhos passavam o tempo a levar-me para casa e eu a regressar, logo que podia, para em bicos de pés, admirar as imagens dos cartazes que tanto me atraiam.
Cresci e a sala foi encerrada. Sim salas de Cinema a fechar não são coisa de hoje. Aquela sala era um Teatro e morreu talvez devido ao sucesso da TV.
Inegavelmente o vídeo tem coisas boas. Só o vídeo permite apreciar algumas das mais belas joias da 7ª. Arte. Só o vídeo permite, a muitos ver e rever as imagens ao ritmo da vontade e disponibilidade.
O Cinema exige uma entrega e um esforço maior, todavia é muito mais gratificante. Embora na obscuridade sentimos a presença dos outros e as suas reações.
As emoções vão percorrer a sala e contagiar os espectadores. Do cone de luz liberta-se Magia e esta invade a sala rapidamente. O projecionista é o mágico, o ilusionista que dirige o espectáculo da luz e da vida. Ele consuma o casamento feliz da película, com a luz. E este é um momento único.
Sejamos optimistas. O Cinema também pode ser melhor, ser ainda mais envolvente e sedutor, manter, recuperar e ganhar novos amantes.
AJ, in “Argumento”, Boletim Informativo do Cine Clube de Viseu, nº 38 de Novembro de 1990.
P.S. – A sala referida no texto era o demolido “Avenida Teatro”, existente na Avenida Emídio Navarro. Este despretensioso pedaço de prosa, foi classificado pelo diretor do boletim do Cine Clube de Viseu que o aceitou para publicação, algum tempo depois de ter sido publicado, como “Sendo uma redação da 3ª Classe”. Facto que muito me honrou, vindo de um tal, Joaquim ALEXndre Oliveira Rodrigues (ALEX), cujo nome aparece, apenas 6 vezes, nessa edição do boletim do qual era director.
"Vídeo Kills The Radio Star" - Música dos "The Bugles", de 1981 , primeiro vídeo exibido pela MTV
20250104
Os Portugueses
“Os portugueses são naturalmente sofredores e pacientes: muita arrochada há-de ser a corda com que de mãos e pés os atam os seus opressores antes que rompam em um só gemido os desgraçados. Um murmúrio, uma queixa… nem talvez no cadafalso a soltarão!”
Almeida Garrett (Carta de M. Scevola, 1830)
20250101
Feliz Ano Novo, Caros Amigos!
Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa tudo continua.
Na fluída e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento.
Fernando Pessoa
20241224
Feliz Natal para Todos
Pastorinhas do deserto,
Levantai-vos que é de dia;
Há muito que o sol é nado
No regaço de Maria.
Deixai cajado e manta,
Vinde todos a Belém
Adorar o Deus Menino
Nos braços da Virgem-Mãe.
Leva arriba, pastorinhos
Leva arriba, maltesia,
Já lhe está a dar a mama
Sua mãe Virgem Maria.
Aquilino Ribeiro in “O Livro do Menino Deus” (1945)
20240904
Rapazes Tomai Cautela... (...)
À noite, no "picadeiro",
Certo menino matreiro
Das fortunas indagou.
Créditos todos falidos,
Mulheres com teres p´ròs vestidos
Nem uma só encontrou!...
Esta vida tão cara
quem tiver grande tara
Se deixa ir no embrulho...
Numa casa sem ter pão
Lá diz um velho refrão
Que nunca cessa o barulho.
Meninas dos tempos de hoje
Vede como um homem foge
De vos pedir ao papá.
Escusais fingir riqueza
Sentando-vos numa mesa
Do tal "Pavilhão de Chã"....
Tudo em vós são fantasias
Por isso ficais p´ra tias
E as Feira hão-de passar...
Mulher que tem merecimentos
Escusa, como os jumentos,
Que a levem a afeirar...
Adelino Azevedo Pinto (Rijo), in "Retalhos dos Meus Trabalhos", Viseu 1985
20240824
"Clube Académico de Futebol" - Extinto
O Clube Académico de Futebol (C.A.F.) era conhecido por "Académico de Viseu", para o distinguir de outras associações de outras localidades também com a designação de "Académico" e a sua extinção foi originada por pedido de insolvência, processo judicial iniciado em 2005 e encerrado no dia 26 de Fevereiro de 2010.
O novo "Académico", o "Académico de Viseu Futebol Clube" teve origem no Grupo Desportivo de Farminhão que em 2005 mudou a sua designação para a actual, também mudou de cores, emblema e a sua sede social, de Farminhão para Viseu e com a concordância da câmara passou a jogar no Fontelo.
20240822
"Feiras de Viseu" - Dr. José Coelho
20240609
Descalça Vai Para a Fonte
Descalça vai para a fonte
Lianor pela verdura;
Vai fermosa, e não segura.
Leva na cabeça o pote,
O testo nas mãos de prata,
Cinta de fina escarlata,
Sainho de chamelote;
Traz a vasquinha de cote,
Mais branca que a neve pura.
Vai fermosa e não segura.
Descobre a touca a garganta,
Cabelos de ouro entrançado
Fita de cor de encarnado,
Tão linda que o mundo espanta.
Chove nela graça tanta,
Que dá graça à fermosura.
Vai fermosa e não segura.
Luís de Camões
20240501
VIVA O 1º DE MAIO !!
Nesta manhã de Primeiro de Maio, Não há por que invejar o sol.
Éramos algo sem nenhuma importância coletiva,
Indivíduos, nada mais.
Nos transformamos num gigante coração
A marchar pelas avenidas.
Nossas reivindicações eram apenas pedidos,
Menos do que isso, gemidos,
Aguardando audiências e despachos.
Agora a voz de cada um faz parte
De um canto cantado por um coral de milhares.
Não somos indivíduos nem multidão,
Somos um povo unido.
Adalberto Monteiro
"As delícias do amargo & uma homenagem: poemas"
Editora Anita Garibaldi – 1ª edição 2006
20240424
Viva o 25 de Abril - 25 de Abril Sempre
"As Portas que Abril Abriu"
Era uma vez um país
onde entre o mar e a guerra
vivia o mais infeliz
dos povos à beira-terra.
Onde entre vinhas sobredos
vales socalcos searas
serras atalhos veredas
lezírias e praias claras
um povo se debruçava
como um vime de tristeza
sobre um rio onde mirava
a sua própria pobreza
(...)
José Carlos Ary dos Santos
20240329
PÁSCOA
Um dia de poemas na lembrança
(Também meus)
Que o passado inspirou.
A natureza inteira a florir
No mais prosaico verso.
Foguetes e folares,
Sinos a repicar,
E a carícia lasciva e paternal
Do sol progenitor
Da primavera.
Ah, quem pudera
Ser de novo
Um dos felizes
Desta aleluia!
Sentir no corpo a ressurreição.
O coração,
Milagre do milagre da energia,
A irradiar saúde e alegria
Em cada pulsação.
Miguel Torga, in Diário XVI
20240306
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
Nós temos à volta de 500 sócios. Sócios que vão, portanto, com regularidade às nossas sessões.
Pagam uma quota irrisória, para a oferta cultural que fazemos...
que é evidente que é grande...
Uma quota de 200$00 permite-lhes ver quatro filmes/mês, portanto, praticamente, nós damos Cinema em Saldo.
Mas acho que é essa a função do Cine Clube.
(...)
In Programa destinada à divulgação da atividade dos Cine Clubes nos finais da década de 1980
20240304
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
(...)
Entrevistador - E os vossos sócios... gostam de quê?
Cinema Americano, Cinema Europeu, Cinema Português...
Como é que vocês chegam a esse balanço da exibição que têm de fazer?
Alex - Nós temos que usar a estratégia de dar uma no cravo e outra na ferradura, como é evidente... É evidente que eles não estão imunes a uma certa hegemonia que o Cinema Americano, faz e que de certo modo, canibalizou todo o Cinema Europeu. Não só o Português, todo o Cinema Europeu está em razoável decadência.
(...)
20240302
Memórias (Más) do Cine Clube de Viseu
Alex/Entrevistador - RTP1
(...)
Alex - De qualquer forma a nossa programação e, é pena, neste momento não tenho aqui números muito exactos mas, á volta de 40/50 % da nossa programação é, efectivamente, Cinema Europeu. Sinal de que vamos, como não somos e não temos responsabilidade, nem queremos ser, portanto... um agente de exibição comercial... podemos dar-nos ao luxo de certo modo de tentar flectir os gostos e a oferta cultural... não dentro da preocupação... das preocupações comerciais dominantes. Apesar de que não temos uma programação crispada, daquelas militante e dura de filmes chatos ou de filmes que, depois, eventualmente, as pessoas não fossem ver, não é ? Temos essa prudência mínima.
In Programa destinada à divulgação da atividade dos Cine Clubes nos finais da década de 1980
20240211
Moda do Entrudo
Ó entrudo Ó entrudo
Ó entrudo chocalheiro
Que não deixas assentar
as mocinhas ao solheiro
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Que no monte é queu estou bem
Que no monte é queu estou bem
Eu quero ir para o monte
Eu quero ir para o monte
Onde não veja ninguém
Que no monte é queeu estou bem
Estas casa são caiadas
Estas casa são caiadas
Quem seria a caiadeira
Quem seria a caiadeira
Foi o noivo mais a noiva
Foi o noivo mais a noiva
Com um ramo de laranjeira
Quem seria a caiadeira
Zeca Afonso
20240101
Ano Novo
Ficção de que começa alguma coisa!
Nada começa: tudo continua.
Na fluida e incerta essência misteriosa
Da vida, flui em sombra a água nua.
Curvas do rio escondem só o movimento.
O mesmo rio flui onde se vê.
Começar só começa em pensamento
Fernando Pessoa, In Poesia 1918-1930, Assírio e Alvim
20231224
Poema do Menino Jesus
Que a luz da estrela do Natal
Que guiou os três Reis magos
Ao encontro do menino Jesus que iluminou o mundo com amor
Possa também iluminar os nossos caminhos
Acreditando sempre que apesar das adversidades
Saberemos cultivar a esperança através da fé e da perseverança
Para que tenhamos um mundo de paz e fraternidade.
Um feliz Natal e ano-novo de prosperidade para todos!
Isaias Ribeiro
20231119
Sem Título
A escuridão cobre meu rosto
Como névoa flutuante que sobrevoa sobre aquele mar imenso
Sinto a brisa que me toca de mansinho
Vejo uma enorme luz que de repente se tornasse um clarão de liberdade
Caminho até as minhas forças pararem na estrada enfraquecidas, sufocadas
Quero viver gritar sobre o mundo que sou livre e nada me impedirá de sobrevoar além de todos os sonhos
Quero sentir novamente a vida
Apreciar as ondas a baterem nas rochas
O Sol a sumir-se no horizonte
Quero viver, caminhar
E sentir no corpo a recordação que trago da liberdade.
Filomena Sousa20231104
Saudade
Quando sentires uma saudade
Voando de encontro aos teus cabelos soltos pelo vento
Essa saudade é minha
A saudade que eu transmito ao tempo
Para ser ouvida sem rumo, nem distância
Mas que tem um destino para ficar
Pois vou ficar na esperança de sentir novamente o teu olhar.
Filomena Sousa