Cada vez menos espectadores nas salas de Cinema e mais gente transportando caixas de plástico com cassetes de vídeo. Geralmente vão aos pares e caminho de casa. Certamente que isto é uma constatação partilhada por muitos amigos. Os tempos que correm são assim:
Individualismo e facilidade.
Mais cassetes a “passear” e menos pessoas nas salas, lugar e eleição para os encontros com o mundo maravilhoso, fascinante e falso do Cinema.
É mais cómodo, a escolha mais ampla, mais económico e os que escolhem o vídeo ficam contentes. E fazem muito bem. Desfrutam ao seu modo.
O vídeo não me satisfaz. Ainda lhe falta muito para ser comparável ao Cinema e nunca o será. São duas coisas distintas e talvez venham a ser complementares.
O Cinema é na sala escura, no “Silver Screen”.
Cinema é viver em grande.
O vídeo não passa de uma pálida imitação do Cinema. As tv’s do futuro (próximo) serão grandes, para pendurar na parede, com formatos respeitadores dos écrans de Cinema e o mais importante de qualidade de imagem capaz de rivalizar com a película (alta definição).
Vamos aguardar a sua chegada. Claro que estes equipamentos vão ser caros, no início, depois a massificação fará baixar os custos.
O meu fascínio pelo Cinema vem de longe. Muito pequeno e já fugia de casa para o Cinema. Com três anos é evidente que o podia frequentar e por isso me limitava a olhar os cartazes, as fotografias e as grandes letras dos anúncios.
Ficava-me pelo “Hall” e por vezes atrevia-me a chegar à porta de onde fluíam os sons maravilhosos daquele mundo. Lá estavam o polícia, o porteiro e aquela porta fechada para mim.
Os amigos e vizinhos passavam o tempo a levar-me para casa e eu a regressar, logo que podia, para em bicos de pés, admirar as imagens dos cartazes que tanto me atraiam.
Cresci e a sala foi encerrada. Sim salas de Cinema a fechar não são coisa de hoje. Aquela sala era um Teatro e morreu talvez devido ao sucesso da TV.
Inegavelmente o vídeo tem coisas boas. Só o vídeo permite apreciar algumas das mais belas joias da 7ª. Arte. Só o vídeo permite, a muitos ver e rever as imagens ao ritmo da vontade e disponibilidade.
O Cinema exige uma entrega e um esforço maior, todavia é muito mais gratificante. Embora na obscuridade sentimos a presença dos outros e as suas reações.
As emoções vão percorrer a sala e contagiar os espectadores. Do cone de luz liberta-se Magia e esta invade a sala rapidamente. O projecionista é o mágico, o ilusionista que dirige o espectáculo da luz e da vida. Ele consuma o casamento feliz da película, com a luz. E este é um momento único.
Sejamos optimistas. O Cinema também pode ser melhor, ser ainda mais envolvente e sedutor, manter, recuperar e ganhar novos amantes.
AJ, in “Argumento”, Boletim Informativo do Cine Clube de Viseu, nº 38 de Novembro de 1990.
P.S. – A sala referida no texto era o demolido “Avenida Teatro”, existente na Avenida Emídio Navarro. Este despretensioso pedaço de prosa, foi classificado pelo diretor do boletim do Cine Clube de Viseu que o aceitou para publicação, algum tempo depois de ter sido publicado, como “Sendo uma redação da 3ª Classe”. Facto que muito me honrou, vindo de um tal, Joaquim ALEXndre Oliveira Rodrigues (ALEX), cujo nome aparece, apenas 6 vezes, nessa edição do boletim do qual era director.
"Vídeo Kills The Radio Star" - Música dos "The Bugles", de 1981 , primeiro vídeo exibido pela MTV