EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


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20160910

“A Feira de S. Mateus Há 100 Anos”


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“A Feira de S. Mateus Há 100 Anos” -  “As Iscas e Farturas do Luciano”

Este ano a “Viseu Marca que pela primeira vez organizou a feira anual de Viseu, editou o 3º número da publicação “Feira em Revista” que curiosamente e apesar do nome, voltou às dimensões do chamado “Livro da Feira”, talvez a pedido dos colecionadores para facilitar a arrumação nas estantes. Nas páginas 78 a 81 o investigador Luís da Silva Fernandes que faz parte da equipa que está a realizar, um estudo da responsabilidade da “Memória Comum Associação”, em que participa Rui Macário e ainda colabora a Doutorada Liliana Castilho, Professora Adjunta na  Escola Superior de Educação - Instituto Politécnico de Viseu, com vários trabalhos publicados sobre Viseu, dá a conhecer aspectos da Feira Franca de 1916.  O estudo foi previsto para durar 3 anos, deverá estar concluído em 2017, irá custar 75 mil euros e “abrangerá três grandes blocos de informação: “Da fundação à Contemporaneidade da Feira de São Mateus”; “A Contemporânea Feira de São Mateus”; “As memórias, materializações e vivências decorrentes da Feira de São Mateus”.
O investigador começa por se referir a um texto de A. de Lucena e Vale, inserto em “Beira Alta Terra e Gente”, Viseu, 1958 - “Feira Franca de Viseu”, em que o autor depois de fazer uma resenha da grande valia da feira, ao longo de vários séculos, refere que (...)" Hoje tudo mudou. A Feira, a velha Feira Franca de Viseu, a esvair-se, falha de interesse e de feirantes, morreu aí por 1916.” 
O articulista esclarece que estas palavras não pretendiam afirmar que a feira tivesse deixado de se realizar mas apenas que entrou em período de decadência. Luís Fernandes foi rebuscar nos jornais publicados em Viseu no ano de 1916, vários anúncios para demonstrar o erro daqueles que tendo tomado a afirmação de A. Lucena e Vale, de forma literal, chegaram a afirmar que a feira se finou nesse ano, para renascer mais tarde. 
Os anúncios que ilustram o texto, agora publicado, são “reclames” ao “Circo de Variedades ‘Elizabeth’ – Hoje grandioso e soberbo espectaculo”, à “Cervejaria Cinema”, de Luciano Costa que vendia “cerveja de pressão a 50 réis o cópo”, “refrescos, por preços módicos” e também “o dôce da moda FARTURAS”, no seu estabelecimento da Avenida Emídio Navarro, “enquanto se não abrir a sua sucursal na Feira Franca.”, da “Kermesse da Cruzada das Mulheres Portuguesesas”, promovida por senhoras de Parada de Gonta, em benefício dos militares “mobilisados dos concelhos de Viseu e Tondela” (Guerra Mundial 1914/18) e por último um recorte do “O Intransigente”, jornal de que foi fundador e director Brito Camacho em que se  anunciava a inauguração da “sucursal” da Cervejaria Cinema”, na Feira Franca e uma novidade a acrescentar às Farturas – as “Iscas á moda de Lisboa”, preparadas por um “habil cidadão de Tuy” que tem toda a aparência de ser publicidade disfarçada de notícia. 
Ora a “velha feira” descrita por A. de Lucena e Vale mas que morrera, era muito mais que Cinema, Circo, farturas, “desfeita de bacalhau” e Iscas, de fígado de porco ou de vitela. Luís da Silva Fernandes não se refere aos aspectos comerciais da feira de 1916, e dos anos próximos, mas apenas refere as grandes dificuldades da economia portuguesa, apesar de nessas décadas a feira ainda proporcionar a realização de algum negócio de produtos agrícolas, vasilhame vinícola, gado e comércio geral. O investigador estará a cometer os mesmo erro do autor do livro citado porque as “Festas da Cidade” realizadas por ocasião dos festejos de Santo António, foram durante muitos anos o principal evento de cariz religioso e popular da cidade e não a Feira Franca. Vamos aguardar pela publicação do estudo que deverá revelar muitos factos históricos importantes e inúmeras curiosidades de que também se faz a História mas que não devem ser sobrevalorizadas.