EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20150502

"Poema da Menina Tonta"


A menina tonta tem vestidos de seda 
e sapatos de seda, 
é toda fria, fria como a seda: 
as olheiras postiças de crepe amarrotado, 
as mãos viúvas entre flores emurchecidas, 
caídas da janela, 
desfolham pétalas de papel... 

No passeio em frente estão os namorados 
com os olhos cansados de esperar 
com os braços cansados de acenar 
com a boca cansada de pedir... 

A menina tonta tem coração sem corda 
a boca sem desejos 
os olhos sem luz... 
E os namorados cansados de namorar... 
Eles não sabem que a menina tonta 
tem a cabeça cheia de farelos. 

Manuel da Fonseca (1911-1993)