EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20141114

O Cão e o Frasco


O Cão e o Frasco

- Meu belo cão, meu cãozinho, meu querido totó, vem cá, vem respirar um excelente perfume comprado no melhor perfumista da cidade.
E o cão, agitando a cauda, o que é, suponho, entre esses pobres seres, o sinal correspondente ao riso e ao sorriso, aproxima-se e, curioso, põe o nariz úmido no frasco destampado; mas subitamente, recuando de susto, late contra mim, à maneira de reprimenda.
- Ah, miserável cão! se eu te houvesse oferecido um embrulho de excrementos, decerto o cheirarias com delícia e talvez o tivesses devorado. Assim, ó indigno companheiro de minha triste vida, tu te assemelhas ao público, a quem nunca se devem apresentar perfumes delicados, que o exasperam, mas imundícies cuidadosamente escolhidas.

Charles Baudelaire -  "Pequenos poemas e prosa", Rio de Janeiro, José Olympio, 1950 – trad. Aurélio Buarque de Hollanda. p. 25