EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20100121

A "Ponte de Pau" e as Mestras



Geralmente apenas os mais velhos e vizinhos de Santiago e da Esculca sabem que em Viseu existem dois lugares denominados "Ponte de Pau". O mais conhecido é a Rua da Ponte de Pau junto da antiga Central Eléctrica e do Campo de Viriato, o segundo fica nas "Mestras". Ambos os lugares tiveram em comum a existência de uma ponte sobre o rio Pavia, se no primeiro caso a ponte de pau deu lugar a uma ponte de um só arco construída em granito, da segunda ponte na desaparecida Quinta das Mestras, uma parte do actual Parque da Radial de Santiago, só sobrou parte do pilar central da ponte particular que há várias dezenas de anos ainda unia duas quintas nas margens do rio e protegia a comporta de uma pequena represa. Os restos do portal construído em granito, a ponte tinha uma porta de madeira e fechadura, estão caídos e no último Verão foram parcialmente removidos quando foi feita a limpeza do rio. Foi lá que há cerca de 50 anos aprendi a nadar.
Curiosamente no último domingo ia a passar de automóvel e vi um velho amigo, com cerca de 80 anos mas ainda vigoroso, que mirava o parque. Resolvi parar e convidei-o a acompanhar-me. Seguiu-me com agrado pela beira do rio mas com cuidado para não se atolar na lama. Foi então que me contou que ainda era pequeno e já acompanhava o pai, lavrador e proprietário de juntas de bois, na lavra daqueles terrenos. Fiquei a saber que era habitual no dia 23 de Junho, na véspera do São João, fazer mergulhar as ovelhas nas águas da represa num ritual levado muito a sério pelos pastores de várias regiões portuguesas.
Este local era considerado sagrado, mágico ou ambas as coisas e há vários séculos porque: "Quinta das Mestras" foi o nome atribuído aos terrenos, mas o pequeno curso de água era - o "Ribeiro das Mestras" ou "Ribeiro das Feiticeiras" uma vez que o povo acreditava ser o local frequentado por feiticeiras e bruxas que aí se banhavam ou porque algumas mulheres chamadas de "Mestras" prometiam curas a quem com a sua ajuda se banhasse na confluência de dois ribeiros junto do Poço do Nicolau [ligação]. Foi nesse local que nos separamos até um dia destes.