EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20091220

O "Viriato no Recato..."



Viriato, meu vizinho,
Tem vivido a um cantinho,
Nas trevas, todo humildade!
Há pouco tudo mudou,
Viva luz o inundou
Com jorros de claridade!

Resolvi entrevistá-lo,
(...)

Assim me disse o guerreiro:
(...)

Nos belos tempos, passados,
Gozei muito bons bocados
Nesta escuridão de breu...
Hoje - que grande arrelia! -
Eternizaram-me o dia,
Para mim tudo morreu!...

(...)
Vi um par de namorados
Tão juntinhos e agarrados
Que fiquei com a impressão
- Faltou-me a luz duma tocha -
Que a rapariga... era a rocha
E o rapaz... o mexilhão...
(...)
Eu vi coisas, eu vi loisas,
Eu vi loisas, eu vi coisas.
Dum realismo brutal!...
Se não perdi a cabeça
Esse bem... que se agradeça
Ao ser velho... e de metal!...

Adelino Azevedo Pinto (Rijo) in "Retalhos dos Meus Trabalhos" [ligação]

As obras de "requalificação" da Cava de Viriato, a pretexto da reconstrução da muralha, fizeram desaparecer a "Cava de baixo", um interessante passeio aberto no séc. XIX na base do talude, onde existia um convidativo recanto à sombra de um centenário carvalho e vários bancos de granito que serviam de poiso aos visitantes, aos namorado e nos últimos anos apreciadores de "charutos". Se os vizinhos e os visitantes ficaram a perder com o desaparecimento do passeio, das duas escadarias e rampas, também o acesso ao monumento ficou mais dificultado. Os namorados e os "fumadores" esfregaram as mãos de contentamento pois passaram a ter mais privacidade.
A nova iluminação do monumento que é ineficaz e parece ter sido ligada apenas para os participantes no congresso das autarquias verem, esteve nessa ocasião - ligada dia e noite, voltou a ser desligada: o passadiço da muralha e todos os acessos continuam mergulhados no breu. Parece-me ter que perguntar ao Viriato se conhece o motivo para tal escuridão...mas em prosa!