É desta vez que a coisa vai... finalmente retomaram a empreitada de “remendar” a passadeira de granito, uma inovação desastrada que foi instalada na Cava de Viriato, e a obra está a avançar rapidamente. Eram cinco os operários que preenchiam com terra os intervalos, com 15 cm de largura e cerca de 30 cm de profundidade, entre as lajes de granito que formam uma plataforma sobre o passadiço da velha fortaleza que já originou várias quedas e ferimentos que poderiam ter sido muito graves. A impropriamente designada Cava de Viriato é uma construção em terra batida, provavelmente de origem árabe, edificada no séc. X por ordem de Almançor que terá aproveitado a anterior localização de um acampamento militar romano atribuído a Bruto Calaico e datado nos finais do séc. I a.C. Com cerca de 2 km de perímetro e mais de 30 hectares de área, os muros formavam uma linha defensiva com configuração octogonal, definida por espessos taludes inclinados para dificultar a escalada e estava protegida por um largo e profundo fosso com água.
A estrutura defensiva chegou aos nossos dias muito danificada, restando apenas parte de seis dos lados e vestígios do fosso em quatro das faces, em dois ainda existe água - é o denominado "poço" ou "lago da cava", das portas nada sobrou.
A ligação da fortaleza à figura de Viriato e aos Lusitanos ocorreu somente no séc. XVI, por via erudita, numa época em que Portugal vivia sobre a dominação filipina. Durante a Idade Média o local foi conhecido como “Cerca da Vala”. A fantasia viu-se reforçada em 1940 quando se levantou um monumento de granito e bronze, da autoria de Mariano Benlliure, dedicado à memória do grande guerreiro e comandante em chefe dos lusitanos que no decorrer das chamadas “Guerras Lusitanas” (147-139 a.C.) derrotou cinco generais romanos e acabou por ser morto por três traidores a soldo do inimigo. Viriato ficou conhecido como o “Terror dos romanos” e foram historiadores romanos ou ao serviço de Roma que perpetuaram, de modo parcial é certo, a sua resistência de nove anos à mais forte máquina de guerra da época – as temíveis legiões romanas, recorrendo a tácticas de guerrilha, sobretudo o bate e foge, a que um exército regular não podia fazer frente.
Tive a oportunidade de ver que os trabalhos estão a ser levados a cabo por uma pequena equipa de cinco operários, pertencentes a uma empresa especializada em jardins e espaços verdes, que utilizam um pequeno veículo a motor com três rodas dotado de uma caixa de carga basculante para transportar a terra amontoada perto da Rua do Picadeiro. Desejo realçar a grande perícia do condutor da máquina que circula, em boa velocidade, sobre a estreita calçada, faz a viagem de regresso de marcha a atrás e sobretudo a simpatia de todos com quem tive o prazer de trocar algumas breves impressões.
Desculpem se pareço ser teimoso mas de novo afirmo que os “remendos” não resolvem todos os problemas e não passam de uma mera acção de cosmética pois o lugar continuará inseguro e de acesso difícil para os utentes com dificuldades de mobilidade. Sem dúvida que local vai ficar mais seguro mas lamentavelmente trata-se de uma solução descaracterizadora do lugar que continuará a potenciar a ocorrência de mais acidentes. Depois de gastos mais de 2 milhões de euros não seria de esperar um tal falhanço.