A VIRIATO
O tempo passa, d’ampulheta a areia
De quantas vidas a memoria apaga!...
Em quantos craneos aniquilla a ideia!...
Em quantos peitos o sentir esmaga!...
(...)
Não morrem os heroes; não, que da morte
O gelo só destróe a vã materia.
Que importa ao bravo que o soprar do norte
Lhe varra as cinzas na mansão funeria?
Que a fama ao dar seus feitos á memoria
Dá-lhe tropheus de gloria immorredouros;
Grava seu nome nos annaes da historia
Cobre-lhe a campa de perennes louros.
Tal Viriato, o pastor humilde, obscuro,
A quem o amor da patria fez guerreiro,
Quebrando do sepulcro o gelo duro
E’hoje inda entre heroes, o heroe primeiro.
(...)
Depois erguendo o gigantesco braço,
Brandindo a larga folha do montante,
Com a vista d’aguia perscrutando o espaço
Saudou a guerra n’este brado: “Ávante!...”
E correu a salvar a patria escrava
Do jugo do romano que a opprimia;
E em face das victorias que ganhava
Mais o seu valor no peito reaccendia.
(...)
Mas a traição velava: a lei da sorte
Tinha marcado o termo ao seu destino:
E o bravo adormecendo achou a morte
No ferro mercenario do assassino.
Sucumbiu à traição; mas a memoria
Cobriu-lhe a campa de perenes louros;
E após annos sem fim a luza historia
Seu nome ensinará sempre aos vindouros.
Patria de Viriato, que tiveste
Seu culto e seus afectos mais latentes;
Vizeu; tu que na gloria adormeceste
Sobre os louros do heroe sempre virentes,
Foi-te bello o acordar! Que o monumento
Que te erige este livro, bello e ousado,
Tem por base o progresso e por cimento,
- As glorias dos heroes do teu passado -
Porto, 20 de Julho de 1883
D. CLORINDA DE MACEDO