EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20160429

Igreja de São Miguel do Fetal



O edifício da actual Igreja de São Miguel do Fetal foi edificado no século XVIII mas a construção primitiva remontava ao período da baixa idade média, sendo mesmo muito anterior à nacionalidade. Durante a ocupação muçulmana de Viseu (981 a 1058) terá sido nesse local permitido aos cristãos celebrar o seu culto e mais tarde temporariamente, por não ser possível o culto em edifício localizado no interior do castelo ou da velha muralha romana, por motivo de obras de reconstrução ou profanação pelos mouros, a modesta ermida por doação em 1110 do conde D. Henrique de Borgonha, serviu como Sé. Localizada fora dos muros e escondida entre matos e fetos terá escapado à destruição pelos invasores. D. Henrique e sua esposa, a condessa D. Teresa que viria a usar o título de rainha, deram início à construção da actual Sé, dentro da velha fortaleza romana, junto dos antigos paços dos reis de Oviedo, cidade onde bispos de Viseu encontraram refúgio.
Uma antiga lenda diz que em São Miguel do Fetal teriam repousado os restos mortais do último rei godo, o rei Rodrigo, que na ermida terminou os seus dias como penitente incógnito. Existindo mesmo uma arca tumular do séc. XVIII, com a seguinte inscrição:

“HIC JACET, AUT JACUIT POSTRE-
MUS IN ORDINE REGUM
GOTTORUM, UT NOBIS NUNTIA
FAMA REFERT.”

“Aqui jaz ou jazeu o último rei dos godos, segundo diz a tradição”

D. Rodrigo terá sido morto na batalha de Guadalete (711) e o seu corpo não foi encontrado, facto que originou diversas lendas, como viria a suceder com o jovem rei D. Sebastião. Nas traseiras do altar-mor existe um arco de volta inteira que a tradição afirma ter pertencido a edificação anterior.
A construção da nova igreja teve o seu início em 1719, durante o bispado de D. Jerónimo Soares (1694-1720), porque a anterior ameaçava ruína e já estava escorada. Por morte do bispo D. Jerónimo as obras cessaram. Seguiu-se um período de vinte anos durante o qual o cabido governou a diocese e fez inúmeras obras, incluindo a de São Miguel que foi finalizada em 1735. A nomeação de novo bispo, D. Júlio Francisco de Oliveira apenas ocorreu em 1740. Sabe-se que em 1855 a igreja encontrava-se novamente abandonada e bastante maltratada, porque em 1808 deixou ser igreja paroquial. Foi a irmandade do Senhor dos Passos que estava sedeada na Capela da Cruz, no claustro da Sé quem a recebeu do bispo D. José Joaquim de Azevedo e Moura (1845-1856),  ocupou e tem conservado até aos nossos dias.
A construção tem características de matriz maneirista, com remate de fachada e janelas de frontão triangular, nos vértices da cobertura possui pináculos piramidais e esferas. No interior existe um retábulo barroco joanino, datado de 1752, em branco e dourado, e dois retábulos laterais maneiristas um dos quais possui uma bela imagem de São Miguel a espezinhar o demónio. Na fachada principal, ladeando o portal, existem estas duas inscrições.

“HAC MICHAEL PRINCEPS COELESTIS IN
AEDE PATRONUS,
HUMANUM A PRISCO PROTE-
GIT HOSTE GENUS.

DUX QUIA SUPREMUS COELI QUE
NINISTER HABETUR,
MISSILIS HASTA DECET, PENDULA
LIBRA MANUS”

*

“QUO POSSUIT VETEREM PRIOR URBE
PAROECIA SEDEM
HOC FACTUM EST TEMPLU, SE-
DE VACANTE NOVUM

ANNOS MILLE SUPRA NUME-
RANTUR SAECULA SEPTEM
LUSTRA QUE, CUM SEDES CONDERE
JUSSIT OPUS,”

“Miguel, principe celeste, orago d’este templo, defende o genero humano do antigo inimigo. Porque é tido como general supremo e ministro do ceu, convem-lhe a arremeçadora lança e a mão com a balança pendente. Este novo templo foi edificado em sé vaga, onde a primeira parochia de Viseu teve a sua antiga sede. Contavam-se sete seculos e sete lustros sobre mil anos, quando o cabido mandou fazer esta obra.”

Fonte principal e epigrafia:  “PORTUGAL ANTIGO E MODERNO, DICCIONARIO...” de Augusto Soares de Azevedo Barbosa de Pinho Leal, continuado por Pedro Augusto Ferreira. Lisboa, Livraria Editora de Tavares Cardoso & Irmão, 5 - Largo de Camões – 6, 1890.