EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20160302

"CAVA DE VIRIATO A CONSTRUÇÃO"



Transcrição da placa informativa colocada na "Cava de Viriato", junto do talude da fortaleza bem perto da Rua dos Heróis Lusitanos e da Estrada Velha de Abraveses. Texto da "Arqueohoje" que incorpora dados obtidos durante o acompanhamento da obra de "requalificação" do monumento e dos trabalhos arqueológicos (escavações e sondagens) que a empresa desenvolveu no interior/exterior do monumento e que desta forma sucinta dá a conhecer:

"CAVA DE VIRIATO
A CONSTRUÇÃO
Singular e monumental, a Cava de Viriato é uma das mais emblemáticas obras de engenharia da terra conservada da Península Ibérica. Geralmente associada a um propósito militar, tem sido desde tempos longínquos alvo de interesse de um colectivo de investigadores e curiosos, os quais, pela sua dedicação e trabalho, muito têm contribuído para o enriquecimento literário e científico acerca desta trabalhosa obra, que combina harmoniosamente diferentes potencialidades do meio físico que nos envolve.
A configuração do monumento não encontra semelhança tanto a nível penínsular como europeu, tendo melhor explicação nas “cidades-acampamentos”! (qal’a) muçulmanas de que é exemplo conservado o monumento de Samarrã, no território do actual Iraque.
Em termos arquitectónicos, a Cava de Viriato é um monumento de planta poligonal constituída por oito taludes em terra aos quais estão associados outros tantos fossos. A Cava de Viriato teria, segundo consta em alguns documentos, quatro portas de cantaria: duas a Norte e duas a Sul.
O processo construtivo consistia assim na edificação de uma possante estrutura de carácter defensivo assente em dois elementos básicos: o fosso e o talude.
O fosso apresenta um perfil em U aberto com uma largura máxima de 16m e cerca de 4m de profundidade, com paredes com uma inclinação na ordem dos 59%. Foi escavado no substrato rochoso e apresenta o fundo plano mas sinuoso. O fosso era alagado com as nascentes de água existentes na zona e por uma complexa rede de drenagem.
O talude é uma muralha em terra de características heterogéneas, com uma cobertura superficial variável suportada por um maciço rochoso com diferentes graus de alteração. Apresenta a sua base a uma cota absoluta variável entre os 440m e os 450m. Quanto à sua altura, os valores oscilam entre os 8,7m e os 0,80m. A largura da sua base varia entre os 8,70m e os 9,40m e a do topo 4m em média. Isto remete-nos para a percepção de que os depósitos de terras feitos no âmbito da construção da muralha usaram o afloramento granítico com alicerce e sendo este de aspecto irregular, os depósitos variaram em correspondência com essas irregularidades. Por outro lado, não podemos esquecer que o talude terá sido alvo de trabalhos de manutenção atestados pelo achado de alguns materiais medievais. Assim, quando o substrato de base era mais resistente ou estava a cota muito baixa, o talude era feito com camadas de terra intercaladas com camadas de saibro. Estas últimas davam consistência ao conjunto arquitectónico.
O acesso ao interior do monumento fazia-se através de passagens abertas no talude. Uma destas entradas era correspondente à Rua do Picadeiro. Uma outra entrada, a Porta da Aguieira terá sido entaipada nos arranjos urbanísticos do século XIX. É possível uma entrada que daria ligação à estrada de Santiago (que levaria Almansor até à Galiza, acção perpetuada na toponímia).
Existia igualmente um complexo sistema de galerias para a captação e adução de águas que indicia a existência de um grande núcleo populacional durante a época medieval. Estas galerias fariam a drenagem das águas excedentárias não só do interior do monumento, como também serviriam para manter um nível homogéneo das águas do fosso."