EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20151012

"Casa das Bocas" - Rua João Mendes



A “Casa das Bocas” é uma casa senhorial situada na Rua João Mendes a quem os viseenses dão o nome de “Rua das Bocas”, tal a notoriedade da casa. A casa, um edifício dos finais do século XVII e início do seguinte, estava devoluta há algumas dezenas de anos quando em Março de 2009, parte do telhado desabou com estrondo. Para evitar novos incidentes foi parcialmente demolida ficando de pé apenas as paredes. O imóvel era constituído por um único andar, sobre as lojas e águas furtadas. A fachada apresenta cinco lumieiras de granito em forma de caderna, dotadas de grades de ferro, sete janelas de cornija sobre pequenas mísulas que na parte inferior servem de remate e nos extremos, dois elegantes portais lavrados em granito ao modo do barroco. A entrada é lateral por uma escadaria que conduz a um pequeno terraço onde pontifica um elaborado portal barroco. Mas o que mais chama a atenção é o friso de gárgulas (bocas) que decora a frontaria logo a abaixo do beiral e da cornija.
As "bocas" são de três de tipos bem distintos, sete são personagens masculinas, todos de chapéu na cabeça a que se juntam dois animais fantásticos e dois “canudos”. Dizem alguns que teriam pertencido à demolida abside românica da Sé de Viseu. Não me parece verdadeiro porque as “gárgulas” são muito diferenciadas nos estilos e na técnica de execução. Cinco das figuras masculinas, algumas parecem usar máscaras, não serão compatíveis com o românico. Quem sabe se o primeiro proprietário não terá sido um endinheirado regressado do Brasil, que quis “caçoar” dos vizinhos ou de algum inimigo.
As gárgulas são elementos arquitectónicos decorativos ou destinados a afastar indesejáveis - acreditava-se na antiguidade que durante a noite os monstros “ganhavam vida”, que também serviam para escoar as águas vindas das coberturas dos edifícios, o que não aconteceria neste caso.

Alexandre Lucena e Vale - “Casas Nobres e Antigas de Viseu “ in “Viseu Monumental e Artístico”, 2ª edição, 1969, Junta Distrital de Viseu.

O edifício do qual restam as paredes exteriores foi adquirido pela Câmara Municipal de Viseu, para nela instalar uma Unidade de Saúde.