"Estes quintais no miolo dos quarteirões conferiam à cidade uma imagem dupla, carácter compacto de construção ao nível da rua e espaço livre e ruralizado no interior dos lotes. Estes espaços verdes contribuíam no entanto grandemente para aumentar a salubridade da vida nas cidades fornecendo espaço para despejos e para um sem número de actividades de lazer e trabalho do dia a dia e, em época de fome ou peste representavam uma importante reserva alimentar intra muros. Nestes redutos as hortas assumiam uma importância crucial para o habitante da cidade permitindo um complemento da sua alimentação à base de pão carne, ou de peixe nos sessenta e oito dias do ano em que esta era interdita, com recurso a alguns produtos frescos. Nas classes mais abastadas os legumes não eram muito apreciados, mas a maior parte da população ingeria regularmente couves, favas, lentilhas, grão de bico, feijões, bróculos, alfaces, pepinos, rabanetes, cenouras, nabos entre outros, facilmente produzidos nestes espaços." (...)
Liliana Andrade de Matos e Castilho in "Geografia do Quotidiano. A Cidade de Viseu no Século XVI", Arquehoje, Lda. e Antropodomus - Projecto Património, Lda., Viseu, 2009.