EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20070614

14 de Junho 1986 f. Jorge Luís Borges



Este livro reúne diversos textos de Jorge Luís Borges sobre Cinema. São alguns breves comentários sobre filmes, curtos enredos/ficções para películas, textos publicados nos anos 30 e 40, um Prólogo de Adolfo Bioy Casares um amigo, um escritor e colaborador de J.L.B., natural de Buenos Aires e ainda ensaios de Edgardo Cozarinsky – realizador, argumentista e actor, outro amigo de Buenos Aires, que coligiu os escritos.
Num dos seus interessantes textos – “Sobre a Dobragem”, publicado na revista Sur nº 128, de Junho de 1945, Borges escreveu o seguinte:

“As possibilidades da arte de combinar não são infinitas, mas costumam ser espantosas. Os gregos engendraram a quimera, monstro com cabeça de leão, com cabeça de dragão, com cabeça de cabra; “ (...)
“Hollywood acaba de enriquecer esse vão museu teratológico; por obra de um maligno artifício que se chama dobragem, propõe monstros que combinam as ilustres feições de Greta Garbo com a voz de Aldonsa Lorenzo. Como não tornar pública a nossa admiração perante esse prodígio penoso, perante industriosas anomalias fonético-visuais ?” ( ...)
“A voz de Hepburn ou de Garbo não é contigente; é, para o mundo, um dos atributos que as definem. E cabe ainda recordar que a mímica do inglês não é a do espanhol.”

“Mais de um espectador se interroga: Já que há usurpação de vozes, porque não também de figuras ? Quando teremos o sistema perfeito? Quando veremos Juana González directamente no papel de Greta Garbo, no papel da Rainha Cristina da Suécia?”

Esta discussão continua actual, a regra em Portugal continua a ser a legendagem, de vez em quando, vozes discordantes, defendam o fim desta prática. No lugar dos monstros, prefiro as versões originais e as legendas. Não será a dobragem a levar mais espectadores às salas de cinema, mas sim a qualidade dos filmes e o seu inigualável poder de atracção, de preferência em salas bem concebidas, com boas condições de imagem, som, conforto e sem pipocas... se possível!

Jorge Francisco Isidoro Luís Borges Acevedo, escritor argentino (Buenos Aires, 24 de Agosto de 1899 – Suiça, Genebra, 14 de Junho de 1986) foi poeta, ensaísta e um grande contista. Apaixonado pelos livros e pela leitura foi um ávido leitor de enciclopédias! Nem a progressiva cegueira que o atacou a partir da década de 50 o impediu de continuar a escrever e a “ler” muito.

“DO CINEMA” – Jorge Luís Borges e Edgardo Cozarinsky
Título original – Borges En/y/Sobre Cine
Tradução de: Ana Fonseca e Silva e Salvato Teles de Meneses
Colecção Horizonte de Cinema – Livros Horizonte, Lda. – 1983, 120 Páginas