EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20061211

Recordações dos anos 70

Na sequência da apresentação do “O Pato Donald”, nº 391 de 5/5/1959, vamos lá a continuar a falar de patos. Este livro socorre-se de vários pedaços de histórias da Disney para mostrar o lado negro das personagens e o encobrimento dos seus verdadeiros objectivos – justificar a exploração e promover a submissão dos povos ao imperialismo e ao capitalismo dos EUA. Vejamos por exemplo o que se escreve no – “Capítulo II . Da criança ao selvagem bonzinho” : “Todas as intenções de Disney baseiam-se na necessidade de que o seu mundo seja aceito como natural, isto é, que combine os rasgos de normalidade, regularidade e infantilismo. (...) O uso que Disney faz dos animais é, todavia, para prender os meninos e não para liberá-los. Eles são convidados a um mundo no qual eles pensam que terão liberdade de movimento e criação, no qual eles ingressam confiantes e seguros, respaldados por seres tão carinhosos e irresponsáveis como eles mesmos e dos quais não se pode esperar nenhuma traição, com os quais eles poderão jogar e confundir-se.”“Todos os personagens anseiam pelo retorno à natureza. Alguns vivem no campo ou nos bosques (Vovó Donalda, pequenos esquilos, lobinhos, etc.), mas a maioria pertence à vida urbana, e dali saem em viagens incessantes até às ilhas, os desertos, o mar, bosques, estratosfera, montanhas, lagos, em todos os continentes (...).Os seus autores são:Ariel Dorfman - apesar do nome é chileno embora tenha nascido em 1942, em Buenos Aires, é escritor, dramaturgo, ensaísta, realizador de cinema e um lutador pelos direitos humanos. Em 1954 foi viver para o Chile e nos anos de 1970 a 1973 participou na governação do país, fazendo parte da administração de Salvador Allende. Exilou-se nos EUA depois do golpe do General Augusto Pinochet (11 de Setembro de 1973) e regressou ao Chile, 17 anos depois, com o retorno à democracia.A sua peça de teatro mais conhecida, “Death and the Maiden”, foi adaptada ao cinema por Roman Polansky ( “A Noite da Vingança” com Sigourney Weaver e Ben Kingsley - 1994 ). Actualmente é professor na Duke University, na Carolina do Norte, EUAArmand Mattelart - nasceu na Bélgica em 1936 a sua infância foi muito marcada pela II Guerra Mundial. Teve uma formação católica e esteve num convento. Participou em movimentos de ajuda aos países pobres. Foi um dos criadores do conceito de Terceiro Mundo. Em 1962 foi para o Chile onde se casou com uma chilena Michèle. Na sequência do golpe de Pinochet, fugiu para França onde é Professor Universitário em Paris. Dorfman é um especialista reconhecido na área da comunicação e da globalização.Estes são os autores deste ensaio, publicado em 1972, que procura desvendar “a verdadeira face do Pato Donald, do Patinhas e de toda a galeria de tipos disneyanos.”
“Para Ler o Pato Donald Comunicação de Massa e Colonialismo”, Ariel Dorfman e Armand Mattelart, Tradução de Álvaro de Moya (Para leer al Pato donald: comunicacion de masa y colonialismo), 3ª Edição, Rio de Janeiro - Editora - Paz e Terra, 1987, 135 Páginas ilustradas, Capa de Jayme Leão.