Na sequência da apresentação do “O Pato Donald”, nº 391 de 5/5/1959, vamos lá a continuar a falar de patos. Este livro socorre-se de vários pedaços de histórias da Disney para mostrar o lado negro das personagens e o encobrimento dos seus verdadeiros objectivos – justificar a exploração e promover a submissão dos povos ao imperialismo e ao capitalismo dos EUA. Vejamos por exemplo o que se escreve no – “Capítulo II . Da criança ao selvagem bonzinho” : “Todas as intenções de Disney baseiam-se na necessidade de que o seu mundo seja aceito como natural, isto é, que combine os rasgos de normalidade, regularidade e infantilismo. (...) O uso que Disney faz dos animais é, todavia, para prender os meninos e não para liberá-los. Eles são convidados a um mundo no qual eles pensam que terão liberdade de movimento e criação, no qual eles ingressam confiantes e seguros, respaldados por seres tão carinhosos e irresponsáveis como eles mesmos e dos quais não se pode esperar nenhuma traição, com os quais eles poderão jogar e confundir-se.”“Todos os personagens anseiam pelo retorno à natureza. Alguns vivem no campo ou nos bosques (Vovó Donalda, pequenos esquilos, lobinhos, etc.), mas a maioria pertence à vida urbana, e dali saem em viagens incessantes até às ilhas, os desertos, o mar, bosques, estratosfera, montanhas, lagos, em todos os continentes (...).Os seus autores são:Ariel Dorfman - apesar do nome é chileno embora tenha nascido em 1942, em Buenos Aires, é escritor, dramaturgo, ensaísta, realizador de cinema e um lutador pelos direitos humanos. Em 1954 foi viver para o Chile e nos anos de 1970 a 1973 participou na governação do país, fazendo parte da administração de Salvador Allende. Exilou-se nos EUA depois do golpe do General Augusto Pinochet (11 de Setembro de 1973) e regressou ao Chile, 17 anos depois, com o retorno à democracia.A sua peça de teatro mais conhecida, “Death and the Maiden”, foi adaptada ao cinema por Roman Polansky ( “A Noite da Vingança” com Sigourney Weaver e Ben Kingsley - 1994 ). Actualmente é professor na Duke University, na Carolina do Norte, EUAArmand Mattelart - nasceu na Bélgica em 1936 a sua infância foi muito marcada pela II Guerra Mundial. Teve uma formação católica e esteve num convento. Participou em movimentos de ajuda aos países pobres. Foi um dos criadores do conceito de Terceiro Mundo. Em 1962 foi para o Chile onde se casou com uma chilena Michèle. Na sequência do golpe de Pinochet, fugiu para França onde é Professor Universitário em Paris. Dorfman é um especialista reconhecido na área da comunicação e da globalização.Estes são os autores deste ensaio, publicado em 1972, que procura desvendar “a verdadeira face do Pato Donald, do Patinhas e de toda a galeria de tipos disneyanos.”
“Para Ler o Pato Donald Comunicação de Massa e Colonialismo”, Ariel Dorfman e Armand Mattelart, Tradução de Álvaro de Moya (Para leer al Pato donald: comunicacion de masa y colonialismo), 3ª Edição, Rio de Janeiro - Editora - Paz e Terra, 1987, 135 Páginas ilustradas, Capa de Jayme Leão.