EDITORIAL


Quando eu me poupe a falar,
Aperta-me a garganta e obriga-me a gritar!
José Régio


Aqui o "Acordo Ortográfico" vale ZERO!
Reparos ou sugestões são bem aceites mas devem ser apresentadas pessoalmente ao autor.

20250216

"Vídeo Kills the Radio Star"


Cada vez menos espectadores nas salas de Cinema e mais gente transportando caixas de plástico com cassetes de vídeo. Geralmente vão aos pares e caminho de casa. Certamente que isto é uma constatação partilhada por muitos amigos. Os tempos que correm são assim:

Individualismo e facilidade.

Mais cassetes a “passear” e menos pessoas nas salas, lugar e eleição para os encontros com o mundo maravilhoso, fascinante e falso do Cinema.

É mais cómodo, a escolha mais ampla, mais económico e os que escolhem o vídeo ficam contentes. E fazem muito bem. Desfrutam ao seu modo.

O vídeo não me satisfaz. Ainda lhe falta muito para ser comparável ao Cinema e nunca o será. São duas coisas distintas e talvez venham a ser complementares.

O Cinema é na sala escura, no “Silver Screen”.

Cinema é viver em grande.

O vídeo não passa de uma pálida imitação do Cinema. As tv’s do futuro (próximo) serão grandes, para pendurar na parede, com formatos respeitadores dos écrans de Cinema e o mais importante de qualidade de imagem capaz de rivalizar com a película (alta definição).

Vamos aguardar a sua chegada. Claro que estes equipamentos vão ser caros, no início, depois a massificação fará baixar os custos.

O meu fascínio pelo Cinema vem de longe. Muito pequeno e já fugia de casa para o Cinema. Com três anos é evidente que o podia frequentar e por isso me limitava a olhar os cartazes, as fotografias e as grandes letras dos anúncios.

Ficava-me pelo “Hall” e por vezes atrevia-me a chegar à porta de onde fluíam os sons maravilhosos daquele mundo. Lá estavam o polícia, o porteiro e aquela porta fechada para mim.

Os amigos e vizinhos passavam o tempo a levar-me para casa e eu a regressar, logo que podia, para em bicos de pés, admirar as imagens dos cartazes que tanto me atraiam.

Cresci e a sala foi encerrada. Sim salas de Cinema a fechar não são coisa de hoje. Aquela sala era um Teatro e morreu talvez devido ao sucesso da TV.

Inegavelmente o vídeo tem coisas boas. Só o vídeo permite apreciar algumas das mais belas joias da 7ª. Arte. Só o vídeo permite, a muitos ver e rever as imagens ao ritmo da vontade e disponibilidade.

O Cinema exige uma entrega e um esforço maior, todavia é muito mais gratificante. Embora na obscuridade sentimos a presença dos outros e as suas reações.

As emoções vão percorrer a sala e contagiar os espectadores. Do cone de luz liberta-se Magia e esta invade a sala rapidamente. O projecionista é o mágico, o ilusionista que dirige o espectáculo da luz e da vida. Ele consuma o casamento feliz da película, com a luz. E este é um momento único.

Sejamos optimistas. O Cinema também pode ser melhor, ser ainda mais envolvente e sedutor, manter, recuperar e ganhar novos amantes.

 

AJ, in “Argumento”, Boletim Informativo do Cine Clube de Viseu, nº 38 de Novembro de 1990.

 

P.S. – A sala referida no texto era o demolido “Avenida Teatro”, existente na Avenida Emídio Navarro. Este despretensioso pedaço de prosa, foi classificado pelo diretor do boletim do Cine Clube de Viseu que o aceitou para publicação, algum tempo depois de ter sido publicado, como “Sendo uma redação da 3ª Classe”. Facto que muito me honrou, vindo de um tal, Joaquim ALEXndre Oliveira Rodrigues (ALEX), cujo nome aparece, apenas 6 vezes, nessa edição do boletim do qual era director.

 

"Vídeo Kills The Radio Star" - Música dos "The Bugles", de 1981 , primeiro vídeo exibido pela MTV


20250104

Os Portugueses


“Os portugueses são naturalmente sofredores e pacientes: muita arrochada há-de ser a corda com que de mãos e pés os atam os seus opressores antes que rompam em um só gemido os desgraçados. Um murmúrio, uma queixa… nem talvez no cadafalso a soltarão!”

Almeida Garrett (Carta de M. Scevola, 1830)


20250101

Feliz Ano Novo, Caros Amigos!


Ficção de que começa alguma coisa!

Nada começa tudo continua.

Na fluída e incerta essência misteriosa

Da vida, flui em sombra a água nua.

Curvas do rio escondem só o movimento.

O mesmo rio flui onde se vê.

Começar só começa em pensamento.

Fernando Pessoa


20241224

Feliz Natal para Todos


Pastorinhas do deserto,

Levantai-vos que é de dia;


Há muito que o sol é nado


No regaço de Maria.


Deixai cajado e manta,


Vinde todos a Belém


Adorar o Deus Menino


Nos braços da Virgem-Mãe.


Leva arriba, pastorinhos


Leva arriba, maltesia,


Já lhe está a dar a mama


Sua mãe Virgem Maria.


 

Aquilino Ribeiro in “O Livro do Menino Deus” (1945) 



20240904

Rapazes Tomai Cautela...

(...)




À noite, no "picadeiro",


Certo menino matreiro


Das fortunas indagou.


Créditos todos falidos,


Mulheres com teres p´ròs vestidos


Nem uma só encontrou!...



 

Esta vida tão cara


 quem tiver grande tara


Se deixa ir no embrulho...


Numa casa sem ter pão


Lá diz um velho refrão


Que nunca cessa o barulho.



 

Meninas dos tempos de hoje


Vede como um homem foge


De vos pedir ao papá.


Escusais fingir riqueza


Sentando-vos numa mesa


Do tal "Pavilhão de Chã"....



 

Tudo em vós são fantasias


Por isso ficais p´ra tias


E as Feira hão-de passar...


Mulher que tem merecimentos


Escusa, como os jumentos,


Que a levem a afeirar...



 

Adelino Azevedo Pinto (Rijo), in "Retalhos dos Meus Trabalhos", Viseu 1985

20240824

"Clube Académico de Futebol" - Extinto


A data da fundação do extinto Clube Académico de Futebol nunca foi suficientemente esclarecida. Segundo consta  dos Estatutos, aprovados por despacho de Sua Excelência o Secretário de Estado da Educação Nacional de 4 de Fevereiro de 1961 - "Capítulo Primeiro - Denominação, Fins e  Sede", Artº 1º ´- O Clube Académico de Futebol, também designado pelas iniciais C.A.F., é uma associação desportiva fundada em 1917, que se rege pelos presentes estatutos". [ver]
Foi grande a minha surpresa quando há já algum tempo, deparei com este quadro com a indicação do dia 9 de Novembro de 1917, como tendo sido a data da fundação da associação. Não consegui apurar a data da edição da estampa mas é provável que tenha sido em 1987, quando o clube completou 70 anos. A direcção certamente teria tido acesso a um documento que lhe permitiu indicar essa precisa data. O ano de 1917 foi a data oficial e serviu para a filiação na Federação Desportiva de Viseu (actual Associação de Futebol de Viseu). Porém no Capítulo 7º,  Artº 74 - a última semana de Junho é destinada à realização da "Festa Clubista, em comemoração da fundação do clube, prazo que poderá ser prorrogado por um mês." Porque motivo a festa era celebrada em Junho, por ser Verão ou por razão desconhecida?
Passo a reproduzir alguns dos artigos desses estatutos para recordação dos mais velhos e satisfazer a curiosidade dos jovens:
(...)"Capítulo Segundo - Insígnia. Estandarte. Uniforme
Artº 7º - O estandarte do Clube é um rectângulo de tecido branco, debruado por um faicha preta, tendo ao centro o escudo insígnia.
Artº 8º - As equipas do Clube são constituídas, tendo por base a cor preta.
parágrafo único - Quando haja necessidade de mudar as equipas, adoptar-se-ão as equipas do Sporting Clube de Portugal" (...)
"Capítulo Sétimo - Das disposições Gerais, Artº 70 - São expressamente proibidos, nas dependências do Clube, jogos de azar." (...)
"Artº 73 - O Clube far-se-á representar no funeral dos seus sócios com o estandarte, fazendo também hastear na sede, a bandeira a meia-haste, nesse dia." (...)

O Clube Académico de Futebol (C.A.F.) era conhecido por "Académico de Viseu", para o distinguir de outras associações de outras localidades também com a designação de "Académico" e a sua extinção foi originada por pedido de insolvência, processo judicial iniciado em 2005 e encerrado no dia 26 de Fevereiro de 2010.

O novo "Académico", o "Académico de Viseu Futebol Clube" teve origem no Grupo Desportivo de Farminhão que em 2005 mudou a sua designação para a actual, também mudou de cores, emblema e a sua sede social, de Farminhão para Viseu e com a concordância da câmara passou a jogar no Fontelo.

20240822

"Feiras de Viseu" - Dr. José Coelho

 
Texto publicado em 31 de Julho de 2014 que teve a imagem embargada, graças a "bandidagem" desconhecida, e que a agora se volta a repetir:

"(…) - foi D. João I logo nos começos do seu reinado (1386), o fundador, em Viseu, de uma feira anual, livre de metade da sisa, a começar em 23 de Abril, dia de S. Jorge, defensor do Reino.
Em Viseu estabeleceu o Mestre de Avis a sua Côrte durante algum tempo, aqui lhe nasceu o primogénito – D. Duarte – e de Viseu lhe foi prestado valioso auxílio nas guerras com Castela, pelo que natural seria que este monarca tratassse esta cidade com especial deferência. D. Duarte confirma a concessão do Pai nos começos do seu reinado, embora depois, por motivos ignorados, a Feira deixasse de se fazer por algum tempo.
Dentro em breve os procuradores de Viseu, nas Côrtes de Santarém, pedem, mas em vão, o restabelecimento da Feira.
No entanto não desistem, pois em breve o voltam a fazer nas Côrtes de Évora, sendo então o pedido deferido por D. Duarte – em memória de ter sido nesta cidade o seu nascimento – tendo concedido a Feira com todos os privilégios outorgados à de Trancoso, menos sisa (Carta de Estremoz, de 17-IV-1436) – e ainda que fosse três dias franca, mercê concedida em Almeirim.(...)"
 
Dr. José Coelho [saber +

“(,,,) Trancoso teve carta de feira dada por D. Afonso III, em 8 de Agosto de 1273. Nela mandava o soberano que se fizesse feira na sua vila, todos os anos, devendo começar oito dias da festa S. Bartolomeu, em Agosto, e durar quinze dias. Em 1304 continuava a fazer-se esta feira anual em Trancoso, pois na carta de feira mensal concedida a Trevões, em 10 de Abril desse ano, se exceptua o mês de Agosto por nele se fazer a feira de Trancoso.
Pouco tempo depois, em 15 de Abril de 1306, D. Dinis mandou fazer feira em Trancoso, todos os meses, a começar três semanas andadas cada mês e durar três dias. Os privilégios são idênticos aos da carta de feira anual dada por D. Afonso III.(,,,)"
 
Francisco José Santiago Martins [saber +]